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Leia mais...No último dia 25 de maio, a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) publicou a primeira fase de um estudo inédito no Brasil, intitulado Epicovid-19. A primeira fase do EPICOVID19-BR foi realizada entre os dias 14 e 21 de maio, em 133 cidades em todos os estados brasileiros, incluindo 21 capitais. Foram realizadas mais de 25 mil entrevistas e testes em 90 dessas cidades (nas demais, o número não chegou aos 200 casos por cidade como os pesquisadores desejavam, por diferentes motivos). Para ter acesso na íntegra, veja em Epicovid-19. O EPICOVID19-BR é um estudo coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas, financiado pelo Ministério da Saúde. A coleta de dados é realizada pelo IBOPE Inteligência.
Os resultados são preocupantes, mas alguns confirmam o que já “sabíamos” no senso comum.
O primeiro deles é que existem diferentes “Brasis” e logo diferentes manifestações da epidemia. O estudo chega a falar em diferentes epidemias: a da zona rural, da zona urbana, de cidades populosas com melhor infraestrutura na Saúde e cidades menos populosas, ou com grande concentração de pessoas, mas com dificuldades de acesso ao sistema de saúde. Mesmo com todas as diferenças, os pesquisadores arriscam afirmar que “O mais importante é saber que a contagem de casos de infecção por coronavírus no Brasil agora deve ser feita em milhões, e não mais em milhares”.
Eu arriscaria dizer que em uma mesma cidade, as epidemias também são muitas: desde o “rico” que está fazendo homeoffice, que tem acesso ao plano de saúde e pode facilmente pagar por um teste para o Coronavirus (PCR, Antígeno ou IgG/IgM) e recorrer a melhores condições na rede privada de saúde, até o mais “pobre” que depende unicamente do SUS, que tem que utilizar o transporte público para trabalhar (sendo ou não serviço essencial) e que pagar pelo teste rápido de fármacia é algo impensável porque vai afetar sua renda.
Uma outra coisa que já “desconfiávamos”, mesmo sendo leigos, é o grande número de subnotificações. Comparando-se a estimativa da pesquisa com os números oficiais sugerem que para cada caso confirmado/oficial de coronavirus, existam 7 casos reais de contaminação na população. Para cada 1 pessoa diagnosticada, existem mais 6 que podem estar contaminando outras pessoas, porque podem ser assintomáticas, ou seja, não apresentam sintomas como febre, tosse seca, falta de ar, dor de garganta, dor de cabeça, perda de palador ou olfato, entre outros sintomas associados à Covid-19.
Os pesquisadores da EPICOVID19-BR explicam o motivo da logo da pesquisa remeter o Coronavirus a um iceberg: “Os casos confirmados, que aparecem nas estatísticas
oficiais, representam apenas a ponta visível de um iceberg cuja maior parte está submersa. Para conhecer a magnitude real do coronavírus, é obrigatória a realização de pesquisas populacionais”. Em outras palavras, o que conhecemos sobre os números da doença no Brasil é uma parcela mínima da parte emersa do iceberg real.
Quando a pesquisa é separada por regiões, um outro dado é muito preocupante para nós. A Região Norte apresenta o cenário epidemiológico mais preocupante do Brasil. Das 15 cidades com maior prevalência, 11 estão na Região Norte, 04 no Pará. A cidade de Breves, com um dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do país, é a que apresenta pior situação: quase 25% da população está ou foi infectada pelo Coronavirus. As outras quatro cidades paraenses com maior prevalência são Castanhal (em 3º lugar no ranking, com 15,4% de infectados), Belém (em 4º lugar, com 15,1%) e Macapá (em 8º lugar, com 8,3%).
Veja que interessante: no mesmo dia em que a pesquisa foi divulgada, o Governo do Estado do Pará determinou o fim do lockdown e passou a responsabilidade para as prefeituras. Coerente? Quais critérios foram usados na decisão?
Segundo dados oficiais da Sespa, às 13h do dia de hoje (28/05), são 33.699 casos confirmados e 2.715 óbitos pelo novo coronavírus. É quase desesperador quando pensamos nas subnotificações.
Em matéria publicada no G1 Pará , o estado deixou de registrar quase mil mortes e 14 mil casos confirmados da Covid-19, por atraso nas notificações. Os boletins retroativos também apontam que em 18 de março, dia oficial do primeiro caso de coronavírus, já havia 62 infectados; em 1º de abril, dia em que foi divulgada o que seria primeira morte, já existiam outros dois óbitos.
Mais uma questão: a verdade é que pouco se sabe sobre o Coronavirus e a Covid-19. Muito do que se divulga são especulações. Muito do que se sabia (ou achava que se sabia) sobre o vírus e a doença em março ou abril, mudou e se fala de forma diferente, desde a prevalência, os sintomas, o diagnóstico e os tratamentos (esses então tão controversos). Não temos sequer certeza que que já entrou em contato com o vírus, sintomático ou não, realmente esteja imune e não possa mais adquirir o vírus ou manifestar a doença. Em outras palavras, não temos informações seguras sobre a possibilidade ou não de recontaminação.
Você pode estar se perguntando, qual meu objetivo em relatar a pesquisa, que já foi intensamente apresentada nas mídias locais e nacional. Meu objetivo é questionar se realmente estamos no momento certo de relaxar as medidas contra o coronavirus. Qual será o impacto na vida das pessoas com o final do lockdown?
Na minha opinião, mesmo que se afirme que as medidas de quarentena (como isolamento social, distanciamento social, uso de máscara entre outros) deva permanecer, o impacto nos pensamentos individuais e coletivos pode ser outro: pensamentos automáticos distorcidos podem causar sérios impactos na saúde das pessoas. Muitos vão sair às ruas, sejam por obrigação (o patrão está obrigando à volta ao trabalho), seja por efeito manada “todo mundo está fazendo, eu também vou fazer”, seja por distorção cognitiva “foi decretado o fim do lockdown, as coisas já podem voltar ao normal”.
De qualquer modo, acho relevante o questionamento e a reflexão: se não está fácil ficar em isolamento social (e eu não estou dizendo que está, dias bons se alternam com dias não tão bons), precisamos aprender/reaprender a viver esse novo normal. Mas, ainda penso que as vidas são mais importantes do que a economia, esta pode ser recuperada.
Pessoas têm nome, rosto, história, filhos, esposos, amigos… Essas, se forem vencidas pela pandemia, não têm como serem recuperadas e se tornarão apenas números diários na estatística de uma pandemia.
Fica a pergunta: A quem queremos salvar?
Escrito por Ana Cristina Costa França, em 28 de maio de 2020.
A autora é Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento, Professora universitária e Sócia proprietária da Salutem Psi.
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