Estamos preparados para envelhecer?

Estamos preparados para envelhecer?

Escrito por Ana Cristina Costa França, em 02 de fevereiro de 2020
A autora é Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento, Professora universitária e Sócia proprietária da Salutem Psi.

Hoje, meio que por acaso, assisti a um filme britânico que me inspirou a escrever esse post.
Em português, “Acertando o passo” (Finding Your Feet no original, dirigido por Richard Loncraine, 2018. Veja mais informações em http://www.adorocinema.com/filmes/filme-247545/) acaba sendo uma boa oportunidade para refletir sobre Envelhecimento.
Envelhecer não é fácil, qualquer pessoa que esteja ou já tenha passado pela meia idade, provavelmente vai concordar comigo. Na nossa cultura de modernidade líquida (eu costumo brincar que nossa modernidade já está vaporosa), aceitar o próprio envelhecimento não é tarefa fácil.
É negado ao velho sua função social, uma vez que habilidades como aconselhar e lembrar são mecanismos não valorizados, sendo recorrente uma opressão à velhice.
Um grande estudioso da Psicologia do Desenvolvimento chamado Erik Erikson propôs uma abordagem de “Ciclo de Vida”. Para Erickson, as fases do desenvolvimento são constituídas por uma força positiva e outra negativa. A velhice seria a oitava e última fase e seria denominada de “Integridade X Desesperança”. Se o idoso vivencia um sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá Integridade e ganhos. Do contrário, se ele se lamentar ou se arrepender das suas escolhas, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e Desesperança.
Muito embora a velhice seja a grande fase da vida, seu apogeu, muitas pessoas mantém-se fixadas aos valores da juventude e não consegue enxergar a beleza dos anos vividos e da experiência acumulada.
Verdade é que há uma supervalorização da juventude em detrimento à velhice. O próprio termo “melhor idade” já demonstra uma certa tentativa de amenizar as características negativas da velhice. Na minha opinião, demonstra inclusive um certo preconceito. Que mal há falar em idoso e velho?
Mas, precisamos ressignificar esses termos, atribuindo-lhes uma carga menos negativa e ressaltando as boas formas de se envelhecer. Precisamos superar a concepção que vincula velhice a declínio, finitude e morte.
O envelhecimento biológico é implacável, ativo e irreversível, causando mais vulnerabilidade do organismo às agressões externas e internas. Já o envelhecimento psíquico ou amadurecimento não ocorre inexoravelmente, como efeito da passagem de tempo. Depende também da passagem do tempo, mas, sobretudo, do esforço pessoal contínuo na busca do autoconhecimento e do sentido da vida. Idosos saudáveis, sem limitações físicas, podem ser bastante produtivos. Necessitam apenas de adaptações às suas limitações.
Uma velhice bem sucedida é o resultado de uma vida bem sucedida, construída desde a infância. Viver bem a velhice depende de viver bem a própria vida.
É importante que desde a mais tenra idade, nos perguntemos “o que eu vou ser quando envelhecer?”.
Vamos nos preparar para a vida e vamos vivê-la da melhor forma possível. A psicoterapia é uma forma (não a única, mas uma das melhores) de facilitar esse processo de aceitar-se, conhecer-se, descobrir-se e, até mesmo reinventar-se.
Finalizo, citando novamente o filme, uma fala impactante que deixo para reflexão da personagem Bif (Célia Imrie): “Uma coisa é ter medo de morrer. Medo de viver é uma coisa completamente diferente.”
Temos apenas uma vida, vamos vivê-la da melhor e mais saudável forma possível.
Observação final: Veja a imagem inicial do post e reflita “Envelhecer é pura poesia. Até o sorriso fica entre aspas” Cris Guerra

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